Descubra o Modelo Spotify

O que a empresa de tecnologia musical mais popular pode nos ensinar sobre a escalabilidade ágil

Spotify é o maior e mais popular serviço de assinatura de streaming de áudio do mundo, com uma estimativa de 286 milhões de usuários. Um dos principais fatores para o sucesso do Spotify é a abordagem única da empresa em organizar o trabalho para aprimorar a agilidade das equipes. À medida que as equipes de engenharia da Spotify avançaram em direção a uma maior agilidade, elas documentaram suas experiências, compartilharam com o mundo e, por fim, influenciaram a maneira como muitas empresas de tecnologia organizam o trabalho. Esse método agora é conhecido como o Spotify model (Modelo Spotify).

O que é o Modelo Spotify?

O Spotify model é uma abordagem autônoma e orientada por pessoas para escalar o agile, que enfatiza a importância da cultura e das redes. Ele ajudou o Spotify e outras organizações a aumentarem a inovação e a produtividade ao focar na autonomia, comunicação, responsabilidade e qualidade.

O Spotify model não é um framework, como observou o coach do Spotify, Henrik Kniberg, uma vez que representa a visão da Spotify sobre escalabilidade tanto do ponto de vista técnico quanto cultural. É um exemplo de como organizar várias equipes em uma organização de desenvolvimento de produtos, destacando a necessidade de cultura e redes.

“O Spotify model foca em como estruturamos uma organização para possibilitar a agilidade.”

O Spotify model foi introduzido ao mundo pela primeira vez em 2012, quando Henrik Kniberg e Anders Ivarsson publicaram o whitepaper Scaling Agile @ Spotify, que apresentou a maneira radicalmente simples com que a Spotify abordou a agilidade. Desde então, o Spotify model gerou muito interesse e se tornou popular no espaço de transformação ágil. Parte de seu apelo é que ele foca na organização em torno do trabalho, em vez de seguir um conjunto específico de práticas. Em frameworks de escalabilidade tradicionais, práticas específicas (por exemplo, daily standups) são a forma de executar o framework, enquanto o Spotify model se concentra em como as empresas podem estruturar uma organização para permitir agilidade.

O Spotify model defende a autonomia das equipes, permitindo que cada equipe (ou Squad) escolha seu próprio framework (por exemplo, Scrum, Kanban, Scrumban, etc.). Os Squads são organizados em Tribes e Guilds para manter as pessoas alinhadas e promover o compartilhamento de conhecimento.

Agora, vamos desmistificar alguns desses termos…

Elementos-chave do Modelo Spotify

O Spotify model é centrado na simplicidade. Quando a Spotify começou a organizar o trabalho, identificaram alguns elementos importantes sobre como as pessoas e as equipes deveriam ser estruturadas.

  • Squads
    Semelhantes a uma equipe de Scrum, os Squads são equipes autônomas e multifuncionais (geralmente compostas por 6 a 12 indivíduos) que se concentram em uma área de funcionalidade. Cada Squad tem uma missão única que orienta o trabalho, um coach ágil para suporte e um product owner para orientação. Os Squads determinam qual metodologia/framework ágil será usado.
  • Tribes
    Quando vários Squads se coordenam entre si em uma mesma área de funcionalidade, formam uma Tribe. As Tribes ajudam a construir alinhamento entre os Squads e geralmente consistem de 40 a 150 pessoas para manter o alinhamento (alavancando o que chamamos de Número de Dunbar). Cada Tribe tem um Tribe Lead responsável por ajudar a coordenar os Squads e encorajar a colaboração.
  • Chapter
    Embora os Squads sejam autônomos, é importante que especialistas (por exemplo, desenvolvedores Javascript, DBAs) alinhem-se nas melhores práticas. Os Chapters são o “núcleo familiar” que cada especialista tem, ajudando a manter os padrões de engenharia em uma disciplina. Os Chapters geralmente são liderados por um technology lead sênior, que também pode ser o gerente dos membros da equipe naquele Chapter.
  • Guild
    Membros da equipe que são apaixonados por um tópico podem formar uma Guild, que essencialmente é uma comunidade de interesse. Qualquer pessoa pode participar de uma Guild, e elas são completamente voluntárias. Enquanto os Chapters pertencem a uma Tribe, as Guilds podem cruzar diferentes Tribes. Não há um líder formal em uma Guild. Em vez disso, alguém se voluntaria para ser o Guild Coordinator e ajudar a reunir as pessoas.
  • Trio
    O Trio (também conhecido como TPD Trio) é uma combinação de um Tribe Lead, um product lead e um design lead. Cada Tribe tem um Trio para garantir que haja alinhamento contínuo entre essas três perspectivas ao trabalhar em áreas de funcionalidade.
  • Alliance
    À medida que as organizações escalam, às vezes várias Tribes precisam trabalhar juntas para alcançar um objetivo. Alliances são uma combinação de Tribe Trios (normalmente três ou mais) que colaboram para ajudar suas Tribes a trabalhar juntas em um objetivo maior do que qualquer uma delas sozinha.


É isso. Não há muitas práticas que precisam ser seguidas ou cerimônias que precisam acontecer. As Squads podem ter cerimônias como sprint planning e retrospectives, mas o foco do Spotify model é em como as equipes se organizam em torno do trabalho. Cabe às Squads determinar a melhor forma de realizar o trabalho.

Os benefícios do Spotify model

Quando o Spotify mudou a maneira como escalou ágil, o objetivo era permitir que as Squads se movessem rapidamente, lançassem software rapidamente e fizessem isso com o mínimo de dor e sobrecarga. Eles perceberam esses benefícios e mais, conforme evoluíram seu modelo. Os benefícios organizacionais de implementar o Spotify model incluem:

Menos processo formal e cerimônia

O Spotify model foca em organizar em torno do trabalho e não necessariamente em processos e cerimônias. Isso dá à organização maior flexibilidade em relação à maneira como as Squads trabalham. Em vez de exigir que as Squads mudem a forma como fazem seu trabalho (“vocês devem usar Scrum“), o foco está em alinhá-las umas com as outras e direcioná-las para os resultados de suas equipes individuais.

Mais autogestão e autonomia

O Spotify model incentiva a autonomia e a criatividade, confiando nas pessoas para completar o trabalho da maneira que elas acharem mais adequada. Precisa lançar um software? Isso cabe à Squad. Precisa mudar de direção? Isso também cabe à Squad. O Spotify model foca na descentralização da tomada de decisões e na transferência dessa responsabilidade para as Squads, Tribes, Chapters e Guilds.

“O controle leva à conformidade; a autonomia leva ao engajamento.”

– Dan Pink, Autor, “Drive: The Surprising Truth About What Motivates Us”

O Spotify model pode oferecer maior transparência em relação ao trabalho realizado e desenvolver uma abordagem mais baseada em experimentação para a resolução de problemas em um ambiente de alta confiança. Tudo isso pode levar a produtos melhores, clientes mais satisfeitos e funcionários mais engajados. No entanto, nem todos experimentarão esses resultados.

Os desafios do Spotify model

O Spotify model foi baseado na maneira de trabalhar de uma organização. Muitas organizações desejam os mesmos benefícios do Spotify model, então tentam emular o que o Spotify fez. Algumas organizações tiveram mais sucesso do que outras, mas é provável que nenhuma tenha experimentado o mesmo sucesso que o Spotify. A razão? Como qualquer forma de trabalhar, a cultura e a estrutura atuais de uma organização precisam ser levadas em consideração. O modelo é simples, mas o ambiente em que ele é implementado é complexo.

“Executivos sábios adaptam sua abordagem para se adequar à complexidade das circunstâncias que enfrentam.” – Dave Snowden, Consultor de Gestão

Infelizmente, muitas organizações tentam copiar o Spotify model. Para alguns, pode parecer uma simples estrutura organizacional matricial, onde as pessoas reportam a uma área funcional (Chapter), mas trabalham com uma equipe multifuncional (Squad). No entanto, é mais complexo do que isso. Embora possa parecer uma organização matricial, os elementos culturais fundamentais do modelo precisam estar presentes para permitir que a estrutura prospere, como confiança e autonomia. Se uma organização não mudar seus comportamentos (e, em última análise, sua cultura), os benefícios do Spotify model nunca serão realizados. Se você simplesmente renomear equipes para Squads, estará apenas “maquiando o porco” (lipstick on a pig).

Melhores práticas do Spotify model

Se você está buscando habilitar uma cultura de confiança, autonomia e aprendizado rápido, não há como errar se inspirando no Spotify model. Se a sua organização está considerando o Spotify model como um meio de ajudá-la a abordar o agile em escala, aqui está uma lista de melhores práticas a serem seguidas:

Não copie o modelo

Busque entender a estrutura, as práticas e a mentalidade por trás da abordagem do Spotify. Com esse entendimento, ajuste os aspectos do modelo para se adequar ao seu próprio ambiente. Seu objetivo não é ser o Spotify, mas usar o modelo deles para melhorar a forma como sua organização trabalha em conjunto.

Autonomia e confiança são essenciais

O Spotify deu o máximo de autonomia possível para suas equipes, para ajudá-las a mudar de direção rapidamente. Permitir que as equipes escolham suas próprias ferramentas de desenvolvimento e modifiquem o código de outras equipes são apenas alguns exemplos. Dentro da sua organização, determine se há decisões que podem ser delegadas às equipes, em vez de serem mandatadas por partes da organização desconectadas do trabalho do dia a dia.

Transparência com a comunidade

O sucesso do Spotify é creditado ao seu foco em construir comunidade e transparência em torno do trabalho. Estabeleça seu primeiro Guild em torno da adoção do Spotify model e incentive a participação de todos na organização. Construa confiança criando formas transparentes e inclusivas de coletar feedback e obter alinhamento sobre como sua organização quer trabalhar no futuro.

Incentive erros

Você cairá e tropeçará nessa jornada. Mas está tudo bem. Melhorias envolvem experimentar e aprender tanto com nossos sucessos quanto com nossos fracassos. O Spotify passou por muitas iterações antes de atingir o modelo que conhecemos hoje e continuou experimentando para encontrar novas formas de melhorar a maneira como trabalham. Incentive o mesmo dentro da sua organização!

Se você se concentrar nessas práticas, verá impactos positivos em como sua organização colabora e se alinha, independentemente de usar ou não o Spotify model como guia.

Conclusão…

O Spotify model é uma grande fonte de inspiração se você está procurando construir uma organização focada em mover-se rapidamente com autonomia e propósito. Até mesmo estruturas de escalonamento mais formais, como Scrum@Scale, se inspiraram no modelo (e vice-versa). É importante lembrar que o Spotify model não é um destino. Ironia do destino, o Spotify não utiliza mais a implementação original do modelo; eles o evoluíram e adaptaram para se adequar à sua organização em constante mudança. Trios e Alliances são elementos mais recentes no Spotify, introduzidos para resolver novos problemas que a organização enfrentou à medida que crescia. Começar com os elementos-chave do Spotify model pode te colocar em movimento, mas a verdadeira agilidade vem com a evolução do modelo para se ajustar ao seu contexto.

Dando o próximo passo

Quer aprender mais sobre o Spotify model? Confira o vídeo de Henrick Kniberg publicado originalmente no Spotify Labs sobre a cultura de engenharia no Spotify e legendado em português pela equipe da Erudio Training. Você também pode aprender como o Spotify model se compara a outros frameworks de escalonamento visitando a página agile at scale no Agile Coach.

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Leandro Costa

Sou desenvolvedor de software a desde 2008, além de programar gosto de esportes de aventura como rapel, tirolesa, trilhas de bike, apreciador de cervejas, baladas, motos e do bom e velho Rock’n Roll também gosto de história, ficção científica e de tecnologia. Atualmente sou consultor de Agile Software Delivery na Erudio Training e instrutor na Udemy.

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